Saturday, February 07, 2015




Era sempre a mesma coisa, queixava-se o meu pai!
Desta vez tinha razão, faltavam uns dias para a apresentação e o pessoal não aparecia nos ensaios! Veio a saber-se mais tarde que tinha sido por causa da bola.
<<Também... marcar o encontro à hora do Benfica não era boa ideia>> opinava com razão o Gouveia.
Enquanto a coisa metia água, eu, o Baltazar e o irmão do Gouveia ficámos a ouvir a rádio..... 2-0 ao Farense.
Quem se safou foi o maestro, roeu a corda e a rapaziada ficou a assoprar sozinha! Se fosse para estas figuras nem lá tinha posto os pés!....só depois é que percebi o que se passou, já era tarde!!


Ela dizia que se matava, não se mata nada dizia a minha mãe!
A verdade é que nunca se matou, morta já estava à muito tempo, não era preciso ser esperto!
Naquele dia foi diferente, ninguém estava à espera! Foi buscar os miúdos à escola e esperou pelo marido em casa, deu-lhe as chaves do prédio e uma caneta. As chaves meteu-as no bolso, com a caneta assinou a papelada que era preciso!
Nunca mais lhe bateu, e eu nunca mais a vi!...acho que foi a sorte dela!



A filha do Américo era uma toleirona!
Pelo menos era o que diziam na colectividade, eu nunca achei, nem eu nem o pessoal lá da rua...é mas é bem boa, confirmava todos os dias o Gouveia!
Uma vez, já nas férias grandes, fizemos uma aposta. Quem desse um linguado à filha do Américo ficava com os melhores 3 cromos de cada um!
Nem linguado, nem cromos, nem nada.... Só ficou a boneca de encher com a qual o Gouveia matava as saudades! Essa sim, uma toleirona!


Diz que punha e dispunha! Mas não era bem assim...
O que se passou foi o seguinte:
Quando vieram de África, deixaram tudo como estava! A casa na praia, o colégio dos miúdos, os saraus aos Domingos e as caçadas ao fim de semana!
Ele pensava que ainda mandava, enquanto fumava cigarros à espera de trabalho!
Naquele dia apanhámos todos um valente susto. Depois de mais uma gritaria lá em casa, a mulher, farta de mandriões à mesa, enfiou-lhe uma jarra da Marinha Grande pelos cornos a baixo - pelo menos foi assim que a minha mãe me explicou! - o homem com a cabeça em sangue, só teve tempo de ir ao café chamar uma ambulância antes de desmaiar ao pé mesmo em cima das tábuas do chinquilho!
Abençoada, desabafava o meu pai! Ainda por cima da marinha grande, exclamava a minha mãe! Porra, mesmo nos cornos, pensava eu!

Tuesday, December 16, 2014



Tinha uma senhora lá na rua que falava sozinha! Era maluquinha coitada, dizia o meu irmão!
Quando passávamos da escola lá estava ela, à janela do rés do chão entretida a puxar malhas dos collants, enquanto falava com ela própria em voz alta!
O Gouveia, que era mais gozão, fazia sempre a mesma, passava a abrasar rentinho à janela e gritava <<Santo Antonio de pão salgado, dá a esta velha o que lhe tem faltado!>> aquilo é que era rir! Só tínhamos tempo de subir para as biclas antes de levar uma descompostura em latim!
Mais tarde, muito a custo, confessei tudo na primeira comunhão!
Só dois Pais Nossos?...já podiam ter dito!! 

Sunday, December 14, 2014


Todos os anos era a mesma coisa!
O meu primo, que era mais velho, já me tinha explicado, no entanto tive que gramar a pastilha como os outros!
Rosário em cruz, a benção do menino e a santíssima trindade, Hosana nas alturas e pouco barulho.....
Ir na procissão era uma valente seca, primeiro por causa da batina branquinha, depois a cera da vela, que me queimava as mãos todas, para além disso ainda tinha que gramar com o esticão do coreto ao cemitério, pelo caminho mais comprido!
 Se não fosse por causa das raparigas e do arroz doce, nunca me tinham apanhado!...uga-se!! 

Sunday, May 29, 2011







Era uma vez o Oscar,
um peixinho de viveiro!



 

Por de trás do stand do pai do Cláudio, havia um grande muro e uma pinheiroca com mais de cem anos (quinhentos, dizia o parvinho do 1º esquerdo). Depois da escola íamos para lá fumar cigarros, apalpar as mamas às cachopas ou escrever slogans heroicos ao Benfica.
Naquele dia, agarrei em 2 latas, com uma fiz o contorno, com a outra fiz os caracois do Chalana.....parecia uma bezerra, dizia o Cláudio!
Que sa foda, ficou bem fixe..... escondemos o tabaco na pinheiroca e fomos embora.

 

Festas dos bombeiros, casamentos e comícios, a malta lá pegava nas bicicletas e toca a dar às perninhas!
Quando havia festa no Saraiva a coisa dava sempre para o torto, ou já não havia rissóis, ou o Raul se embebedava ou descobriam que estávamos outra vez a roubar coca-colas.
Uma vez, já todos bem tratados, fomos dar com o Raul a ressonar enrolado numa bandeira do PPD.
Fizemos-lhe uns bigodes e fomos embora.

















Eram Sábados eram Domingos, era tudo! O meu primo Alfredo nunca largava a jogatina....tá, tá, tá, pimba...toma.... Houve uma vez que lhe fizemos uma das boas, estava mesmo a passar o Boss quando o Gouveia lhe desligou a ficha! Tanta porradinha minha santinha, nesse dia acabei por me safar...o pior foi o Gouveia!



Wednesday, January 03, 2007


Pelo menos uma vez por ano tínhamos que ir à missa da minha avó.
Lembro-me bem que o tempo que lá passava era distribuído em 2 partes iguais, quando chegava inventava histórias para os santos quase todos, uns iam connosco ver o Benfica ao café, outros iam aos sapos e davam reprimendas ao Gouveia e ainda outros que eram chatos e nunca chegava a inventar nenhuma história para eles.
A segunda era a parte mais complicada, começava-me sempre a doer os pés quando nos tínhamos que levantar aquele tempo todo, e ficava enjoado com o cheiro a naftalina das velhas amigas da minha avó.
A minha mãe pensava que era ronha. A verdade é que a segunda parte custava sempre tanto a passar.
A primeira era gira.

Houve uma altura em que o meu primo ficou sem emprego, a minha tia já não sabia o que lhe havia de fazer.
Depois de algum tempo, lá veio uma carta do desemprego e teve que ir entregar papelada e despachos do tribunal. Acho que era um emprego da câmara.
O pior que lhe podiam fazer era pôr-lhe uma mota nas unhas, dizia o meu tio cheio de nervos.
Bem dito, bem feito, passado 3 semanas tinha sido despedido e e ficou com a mota para pagar ao estado. Espatifou-a toda.
A minha tia dizia sempre para ele ter cuidado.
Ele é que não tinha..

No final do período havia sempre um passeio.
Daquela vez fomos aos barcos, como era mais ou menos habitual pela altura da Páscoa.
Eu e o Teixeira, o Gouveia e o filho da Rosário, a Odete e a professora e por último o Lampreia e com o Cajó.
Passámos umas boas 2 horas na farra até nos fartarmos dos bracinhos, quando dei por mim távamos a remar um para cada lado. Só me lembro do Teixeira ficar todo lixado e ofender a minha irmã com 3 palavrões de grave tom, foi aí que me levantei e dei-lhe com o remo na cabeça.
Foi logo ao fundo, todo encharcado.
No fim fizemos as pazes e fiquei de castigo no passeio seguinte.
Foi mesmo bem dada.

Sunday, December 03, 2006


Quando íamos aos sapos era sempre a mesma coisa.
A malta fartava-se de rir às cambalhotas com os cigarros que o Gouveia lhes dava, os filhas das putas chupavam tudo e ficavam inchados como uma beterraba grelada. Pobres bichos.
Uma vez, ainda me lembro, havia um que tava mais teimoso que os outros e cuspia sempre o cigarro para o chão. O Gouveia apertou-o com tanta força que o sapo lhe fujiu das mãos e saltou-lhe para a cara.
Aquilo é que foi rir a bom rir. Depois lavamos todos as mãos e fomos comer pão com manteiga lá para casa.
« Que rico paposseco com manteiga.» - exclamou o Gouveia. Desatámos todos às gargalhadas.

Thursday, November 23, 2006

Os almoços na casa do meu tio Faustino eram como ir à missa do Diabo. Era o que dizia a minha tia Judite com verdade!
Pataniscas com arroz de feijoca, salada de alface, pepino e cebola, pão do Zé da Russa e água-pé prós miudos.Vamos embora!
Um gaijo saia de lá cheio de calor e todo encarnado, uma pançada que não lembrava nem ao menino Jesus.
Houve um Sábado que a minha tia teve que guardar as pataniscas todas à pressa.
Parece que tinha morrido o cura e o pessoal ficou sem almoçar. No dia do enterro, o meu tio ficou lá atrás connosco, contou-nos anedotas a marcha toda. Ia destapando o Taparowere das pataniscas e enchemos o bandulho à mesma. Acho que foi o cura da primeira comunhão, não tenho a certeza.
Já no fim da rua morava um senhor muito gordo e de certa idade.
Era muito rico, vaidoso e estranho, toda a gente dizia que era maricas. Para nós era apenas o "Gordo".
Nunca tinha visitas, a não ser uma filha que lá ia no Natal.
Ainda me lembro! Quando foi para o tirar dentro de casa, já morto, foi uma carga de trabalhos.
O meu pai ainda gozou com isso uns tempos. - «não comas muito, que ainda inchas como o Gordo e nem 7 bombeiros te valem!» - agente ria-se muito e batia com as mãos em cima da mesa.
A minha mãe não achava piada nenhuma.
Para além de ser um galdério era também um bêbado. Isto na opinião de toda a gente lá da rua. Para nós era apenas o primo mais velho que nos piscava o olho e nunca nos repreendia.
Tinha uma mota encarnada e passava a abrasar à porta da mercearia sempre à mesma hora.
A rapaziada ficava ali um bocadinho até o ver passar, depois íamos à nossa vida. E ele também.
O presidente da associação de moradores era um bocado chato, pelo menos era o que o meu pai dizia.
O senhor era pai do Lampreia, que era um bocadinho chato também - «Assim só se estraga uma casa!» - dizia a minha mãe.
Uma vez ouve uma grande zaragata por acusa de uns canos rotos à porta da associação. O pessoal lá da rua passou-se e chegou-lhe a roupa ao pêlo. Lembro-me que o meu pai também molhou o pão na sopa.
Nesse dia o Lampreia deixou de ser um chato e fomos todos jogar à porrada para o quintal da avó do Teixeira.
O Lampreia e eu ganhámos 3 vezes.
Naquela semana não se falou de outra coisa.
Apareceu por lá um senhor que nem era estranho nem era normal, era só um senhor.
Em poucos dias vendeu uma série de material, uns patins ao Teixeira, um "1,2,3" à mãe do Gouveia, uma bigorna ao meu pai e um avião que ninguém teve coragem de lhe pegar. Acho que tiveram medo de qualquer coisa, ninguém queria assumir a responsabilidade e calaram-se todos.
Se não fosse o dinheiro do peditório tinha comprado a merda do avião, pelo menos não tinha ficado entalado até hoje.

Houve uma altura que uma senhora amiga da minha mãe meteu-se no jogo. Acho que era bingo, ouvia dizer.
Chegava a perder 5 e 10 contos na mesma noite. «Quem me dera perder tanto dinheiro» - pensava.
Na ultima quinzena de Outubro havia uma espécie de festa lá na rua. Já nem me lembro porquê. Vinham sempre ciganos e farturas. Nesses dias podíamos ficar até à uma e o meu pai dava-me sempre 500 escudos.
Derretia o dinheiro todo em porcarias, tiros e merdices. Houve um ano que apliquei o dinheiro todo numa garrafa de ginja. Aquilo é que foi!
No dia seguinte não tinha dinheiro e fui pedir mais à minha mãe, disse-lhe que tinha dado tudo ao peditório e ela ralhou comigo. - «Isso são umas putas beatas!» Confesso que não estava à espera e fiquei arrependido.
Nunca pensei que fossem beatas.
De vez em quando ainda gosto de falar nisso.
Tinha uma prima que era mais atrevida que todas as miúdas da minha rua juntas, também era mais velha e tinha mais corpo. Na minha opinião também contava.
Dizia-se que andava metida com o senhor do notário, ninguém tinha a certeza, a não ser eu e a rapaziada.
Fazíamos bicha para os ver a bombar na mangueira. «É mesmo boa!» - dizia o Gouveia com as mãos dentro dos calções.
Ainda hoje falamos dela, ele reformou-se.
Havia um senhor lá na rua que vivia sozinho, «tinha umas amigas!» dizia a minha mãe.
Só sei dizer que ele já não andava bem. Naquele dia fez um grande buraco mesmo à frente de casa e convidou toda gente para ir lá espreitar, quando lá chegámos não havia nada.
Estava à procura da cabeça e jurava que a tinha enterrado naquele sítio. Era só rir!
Ninguém achou piada nenhuma, mas ao fim ao cabo era muito boa ideia. Quem sabe se a cabeça estava mesmo ali?
Acho que não a chegou a encontrar, mas eu sim.
Tínhamos um tio que era maluco.
Na Páscoa íamos sempre lá a casa levar umas amêndoas e falar um bocadinho com ele. Um dia, quando batemos à porta, estava ele a fazer uma surpresa!
Lembro-me que metia a cabeça dentro do fogão e que se babava muito enquanto nos dava as boas vindas. Tive que levar um valente tabefe para parar de me rir que nem um perdido. O meu tio era do caraças!
Continuámos a ir lá todas as Páscoas. Nunca mais me esqueço do estaladão que levei!
Ainda me lembro bem!
Certo dia fomos jogar à porrada para o quintal da avó do Teixeira, a velhota começou aos berros que lhe escavacávamos as flores todas, o pessoal pôs-se logo no gozo e a fazer caretas. Coitada da senhora. Lembro-me também que nunca mais fomos jogar à porrada para lá, o pai do Teixeira comprou-lhe um computador e o pessoal ficava bastante mais sossegado - «Estão a ver como se portam bem!!»
Foi a primeira vez que nos sentimos controlados por uma máquina. E até foi fixe!
Quase tão fixe como a porrada!

Aos Domingos ficávamos quase sempre em casa.
O meu pai aproveitava para dormir no sofá que era da minha avó, e nós pisgávamo-nos mal ele adormecia. Umas vezes íamos aos sapos, outras íamos apenas andar de bicicleta para ao pé do pinheiro manso.
Um dia quando cheguei a casa, encontrei o meu pai a sorrir enquanto dormia.
Acho que era da televisão que estava muito alta!